"Time present and time past are both perhaps present in time future and time future contained in time past."

T.S.Eliot

segunda-feira, 15 de março de 2010

O MEDO

Entre 'A Tentação de Existir' de Cioran e 'O Medo de Existir' de José Gil vão muitos anos, um abismo cultural e um passo de gigante...aqui ficam algumas linhas do filósofo português, para reflectir e assistir amanhã ao diálogo entre ele e Eduardo Lourenço.

"Há pois que considerar o medo não tanto como um sentimento ou uma 'paixão'( como se dizia no séc XVII ), ou mais geralmente como um afecto que atinge uma maioria de indivíduos de um grupo social determinado, mas como um sistema que condiciona directa e decisivamente mecanismos macrossociais. Sistema de relações afectivas em imediata conexão com a máquina produtiva e com o poder.O medo impede certas forças de se exprimirem, inibe, retira e separa o indivíduo do seu território, retrai o espaço do corpo, estilhaça coesões de grupo - tudo isto tem efeitos mediatos e imediatos nos processos de produção económica, social, artística, de pensamento. Quebra-os, desacelera-os, esfarela-os.
Um afecto não é apenas uma experiência isolada da consciência do sujeito. Constitui antes uma célula em agenciamento múltiplo com outras células, outros afectos - e com espaços, tempos colectivos, engrenagens e cadeias sociais de produção. Enquanto agente motivador ou inibidor do trabalho, o afecto ( em qualquer sociedade, nas mais arcaicas como nas mais desenvolvidas ) faz parte do sistema produtivo.
Se o ( actual ) povo português fosse um povo de intensidades e não de sentimentos e de medo ( como Fernando Pessoa caracteriza o povo espanhol contrapondo-o ao português ), há muito que teríamos saído do estado de iliteracia e de fragilidade económica em que vivemos."

José Gil, PORTUGAL HOJE - O Medo de Existir

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